Deixando Carmelo, rumamos, então, pra Colonia del Sacramento.
Chegamos, nos instalamos na Posadita de la Plaza e saímos pra comer algo e aproveitar o dia. Sábia decisão, porque foi o único dia (dos quatro que estivemos aí) que tivemos pôr do sol sem céu encoberto.
Comemos no Colonia Sandwich, um delicioso sanduíche de salmão defumado com queijo cremoso, em pão de aveia, acompanhado de limonada.
E pernas pra que te quero… e máquina fotográfica também! Andamos bastante pelas ruas, passamos pela Igreja Matriz (Basílica del Santísimo Sacramento), pela Rambla, pelo Portón del Campo, pelo Bastión de San Miguel…
Pelas ruas de Colonia…
… e finalizamos no Muelle Viejo, acompanhando o pôr do sol… lindo!
À noite, jantar na pizzaria Don Joaquím, que faz maravilhosas pizzas napolitanas em três minutos. O processo de produção é uma atração, que finaliza com a degustação!
Depois, uma caminhada pra fotos noturnas…
…..
Dia seguinte, amanheceu lindo. Depois do café da manhã (que na Posadita é sempre acompanhado de muita conversa e pão assado na hora), saímos pra caminhar…
Agora, com um pouco mais de calma, fomos passando pelas ruas… a graça da cidade é justamente caminhar tranquilamente, observando as fachadas das casas históricas e descobrindo cantinhos charmosos e fotogênicos.
O desenho urbano de Colonia não segue o padrão tabuleiro de xadrez da colonização espanhola no Novo Mundo. Isso porque a cidade foi fundada por portugueses, no século XVII, como estratégia da Coroa Portuguesa para estender suas fronteiras. Claro, depois os espanhóis chegaram. E o resultado é uma mistura, que aparece também na arquitetura da cidade, que mescla os dois estilos, espanhol e português, com presença mais marcante desse último.
E estamos falando basicamente no centro histórico da cidade; porque Colonia, ao contrário do que pensávamos, não é uma cidadezinha, e vai muito além desse centro histórico. Mas, voltando a ele, o gostoso é se perder e se achar naquelas ruazinhas, que parecem sempre esconder algo bacana, um detalhe, uma curiosidade… e Colonia tem um ritmo próprio, devagar, que pode observar nas pessoas sentadas nas praças e áreas verdes… e que os turistas adquirem e passam a funcionar no mesmo compasso… é comum encontrá-los fazendo “nada”, sentados em um banco de praça…
Na caminhada, foram aparecendo diante de nós o Paseo de Los Ángeles, o Paseo de San Gabriel, a Calle de las Flores, a Calle de Los Suspiros (talvez a rua mais famosa de Colonia)…
Pelas ruas de Colonia… cantinhos lindos e muitos carros antigos…
Andando, acompanhando a rambla, passamos por uma estação de trem (parecia abandonada) e chegamos ao Centro Cultural, um prédio muito bonito, com arquitetura moderna, contrastando com a característica histórica de Colonia. Visitamos esse Centro só por fora. Não havia indicação de como acessar; algumas portas que encontramos, estavam fechadas.

O Centro fica próximo ao atracadouro das balsas que conectam Colonia com a Argentina. E é triste ver a quantidade de fumaça negra que as embarcações lançam no ar… ficamos nos perguntando como os passageiros conseguiam aproveitar a paisagem com toda aquela fumaça…

Caminhando de volta ao centro histórico, pela rambla, passamos novamente pelo Portón del Campo e pelo Bastión de San Miguel. O Portón de Campo (ou Puerta de La Ciudadela) é um portão, com uma ponte levadiça, do século XVIII, construído pelos portugueses e que fazia parte dos muros que protegiam a cidade contra invasões; atualmente é considerada a entrada para o centro histórico. O Bastión de San Miguel, ao lado da Puerta de la Ciudadela, é parte da muralha construída, em 1745, para defender a cidade.
Bastión de San Miguel e Puerta de la Ciudadela
Subimos, então, no Faro de Colonia, que fica na Plaza Mayor, onde também está a Posadita de La Plaza. O farol foi construído em 1694, sobre as ruínas do convento de São Francisco; destruído por um incêndio, foi reinaugurado em 1857 e ainda conta com alguns pedaços da construção original. De lá se tem a melhor vista da cidade, sendo possível ver tanto o centro histórico, quanto o Rio da Prata. A subida tem 118 degraus, mas o esforço da vista 360º vale a pena! O tempo de permanência é limitado, até pelo pequeno espaço lá em cima; fecha no horário do almoço; é bom verificar os horários de funcionamento na entrada do farol; e pagamos $25 pesos uruguaios para subir.
Vista de Colonia, a partir do farol
Descendo do farol, resolvemos dar uma parada na Plaza Mayor 25 de Mayo, no clima de Colonia, enquanto pensávamos onde e o que comer. Enquanto estávamos lá, encontramos Isa, brasileira que também estava hospedada na Posadita. E aqui abrimos um parênteses pra contar essa história: Isa estava viajando sozinha pelo Uruguay e estava no que seria seu último dia no país em Colonia; tomou café da manhã na pousada, quando a conhecemos, e foi pra rodoviária, pegar o ônibus pra Montevideo pra, de lá, voar pra São Paulo, onde mora. Ocorre que, quando chegou à rodoviária, constatou que não havia mais vagas nos ônibus pra Montevideo, a tempo de pegar o voo; buscou transfer e ônibus pra outras cidades, mas sem sucesso. A saída: tentar transferir o voo e, assim, poder pegar um ônibus mais tarde. Foi nesse ponto que a encontramos na praça.
Conversa vai, conversa vem, caminhamos um pouco mais (estávamos esperando o sol ficar a pino pra tentar uma boa foto da Calle de los Suspiros) e decidimos ir pro Boca de Santo, comer hambúrguer. Além do hambúrguer saborosíssimo, o papo também foi delicioso.
A essa altura, ela recebeu a notícia da transferência do voo (sem custo!), de forma que somente precisaria pegar o ônibus pra Montevideo à noite (o voo saía pela manhã cedo, ou algo assim). Então, convidamos Isa pra continuar o passeio conosco.
Primeiro, um cold brew no Colonia Sandwich. Depois, passamos na rodoviária para comprar o bilhete do ônibus e, depois, lá fomos nós pra parte das praias de Colonia, na direção da Plaza de Toros.
Paramos no letreiro de Colonia pra umas fotos, na própria Plaza de Toros ou Plaza Real San Carlos (inaugurada em 1910, teve apenas oito apresentações, pois, em 1912, as touradas foram proibidas no país; tem uma linda arquitetura mudejár, mas, abandonada desde a proibição das touradas e hoje, interditada pela falta de conservação, serve apenas a fotos externas).


Fomos, ainda, até a Iglesia San Benito, a mais antiga do país, inaugurada em 1761 e que foi erguida em apoio às tropas espanholas em luta com os portugueses. Inicialmente, foi chamada “Capilla de San Carlos”, em homenagem ao rei Carlos III; depois, passou a “San Benito”, em honra a San Benito de Palermo, o primeiro santo negro da igreja católica. Muitas lendas rodeiam a imagem do santo que está na igreja, uma das quais conta que foi achada por indígenas, no Rio da Prata.

Voltamos, para a Avenida Costanera… a ideia era ver o pôr do sol… mas, a essa altura, o céu já se fazia coberto de nuvens… apenas uma fresta de luz sobrou no horizonte…
Na volta, fotos do letreiro de Colonia, com iluminação colorida.
Passamos, então, na pousada, para que Isa se preparasse para a viagem; e a levamos à rodoviária, nascendo, desse encontro, dessa sincronicidade, uma simpatia suave, com ares de amizade… e assim nos despedimos, esperando pela oportunidade de um novo encontro…
À noite, empanadas do La Passiva… noite de lua cheia…
…..
Dia seguinte madrugamos e, antes mesmo do café da manhã, estávamos na rua, aproveitando a linda luz do início da manhã e as ruas vazias, pra fazer uma das coisas que mais gostamos: fotografar. As ruas eram as mesmas, mas sempre apareciam novos detalhes, novos olhares sobre as mesmas coisas…
Como sempre, voltamos à Calle de Los Suspiros. Existem diversas versões pra explicar o nome, desde a presença de casa de prostituição, cujos suspiros dos amantes eram ouvidos da rua, até o caminho para os condenados à morte, dando seus últimos suspiros de lamento. Seja qual for a origem, essa rua de pedestres é sim, muito bonitinha e fotogênica, talvez a mais fotografada da cidade.
Lá pelo meio da manhã, voltamos à pousada pro café, sempre demorado e com muita prosa. A essa altura, o céu azul já tinha ido, dando lugar a um branco, de muitas nuvens. Decidimos, então, conhecer os museus da cidade. Não são muitos e são pequenos, de forma que uma parte da manhã já é suficiente para todos. Importante iniciar pelo Museo Municipal, onde se adquire o ingresso ($50 pesos uruguaios por pessoa) e que dá direito ao Museo Portugués e Arquivo Regional, Museo del Azulejo, Museo Indígena, Museo Paleontológico, Museo Nacarello e Museo Español (este último estava fechado). No site, pode-se verificar os dias de funcionamento de cada um.
O Museo Municipal, o primeiro de Colonia, criado em 1951, fica num prédio de arquitetura portuguesa, alterada no período espanhol, tendo hoje estilo neoclássico. Conta a história da cidade, com muitos objetos de época; no anexo, mostras de fósseis e outros elementos que trazem informações desde a pré-história da região.
O Museo Azulejo mostra uma coleção de azulejos espanhóis e franceses, numa construção portuguesa do século XVIII, com paredes originais.
O Museo Nacarello fica também em uma construção portuguesa do século XVIII, conservando originais as paredes de pedra e parte do piso; a visita mostra o cotidiano dos tempos coloniais, com diferentes objetos de uso diário como mobiliário, cerâmicas e utensílios de cozinha.
O Museo Portugués mostra mobiliário português, artesanatos, armamentos, mapas cartográficos, além do escudo original do Portón del Campo, num prédio português, com muros exteriores de pedra e adobe, paredes internas de uma estrutura de madeira preenchida com pedras, pedaços de telhas e adobe. Os anexos são construções espanholas, do final do século XVIII, sobre muros portugueses.
O Museo Indígena, o mais simples de todos os que visitamos, tem apenas achados arqueológicos encontrados no departamento de Colonia.
Não visitamos o Museo Paleontológico, que fica fora do centro histórico, próximo ao Real San Carlos. Dos que visitamos, os mais interessantes são o Municipal e Azulejo.
Encerradas as visitas aos museus, fomos almoçar no Istanbul Gourmet, um charme de restaurante, de comida turca deliciosa e atendimento mais que gentil, que fica na casa de uma família de imigrantes. Com direito a Baklava de sobremesa… maravilhoso!
À tarde, caminhando como sempre, visitamos uma feirinha de artesanato perto do rio, muito simples. Tentamos visitar o Centro Cultural Bastión del Carmen, um centro de artes e exposições, situado num prédio de 1880, construído para servir como refúgio da defesa durante as batalhas. Mas uma falha na informação posta do lado de fora, com os horários de atendimento, nos deixou sem poder entrar. Se tiver interesse em visitar, pergunte sobre o horário de funcionamento para não ter falha. O local pareceu-nos agradável, onde sempre víamos muitas pessoas passeando, principalmente no dia de pôr do sol limpo.
Ainda, um sorvete na Cali Helados.
Com o céu branco, encerramos as caminhadas…
À noite, “picada”, vinho e boa música, no El Buen Suspiro.
……
Último dia em Colonia, fomos a um passeio um pouco mais distante: o Parque Anchorena.
No caminho, pequenas paradas nas praias de rio; mas com a vista prejudicada pelo tempo nublado… sem dúvidas, a luz traz a cor às paisagens…
Mas, como não podemos deixar passar as oportunidades que a vida oferece, lá fomos nós.
No dia anterior, tínhamos ido até o escritório de turismo da cidade, ao lado do Portón de Campo, onde a atendente telefonou para o Parque e nos passou o telefone para que fizéssemos a reserva. Há um número limitado de visitantes por dia e as visitas precisam ser reservadas com antecedência. Informações: Parque Anchorena.
O Parque Anchorena ocupa uma superfície de 1.369 hectares, que foi doada, por testamento, ao Estado uruguaio por Don Aarón de Anchorena, de nacionalidade argentina, com o compromisso de que ali fosse estabelecido um parque com fins educativos, recreativos e de interesse geral, para a população. Foi aberto ao público em 1989, através de visitas ambientais guiadas interpretativas, pioneiras no país. O parque recebe milhares de visitantes por ano. Também por disposição testamentária, a casa principal é residência presidencial.
A residência presidencial e a sede do parque.
O parque tem centenas de espécies vegetais e exemplares de fauna, nativos e introduzidos; além de diversas construções, onde se destacam a residência presidencial e o mais interessante delas, a torre, com 75 metros de altura (atualmente fechada para subida). Aos pés da torre, está sepultado Don Anchorena. Curiosidade da fauna, um grande número de cervos Axis, originários da Índia e introduzidos por Anchorena, passeando pelo parque e causando euforia para as fotos (de longe!). Na flora, destaque para as mais de sessenta espécies de eucalipto.
A visita guiada é realizada em ônibus do parque e é gratuita, mas os visitantes devem chegar por conta própria à administração do parque, que fica a cerca de 30 km de Colonia del Sacramento.
Na nossa visita, não pegamos tempo muito bom; o dia estava completamente nublado e chegou a chuviscar. Mas valeu conhecer aquela imensidão verde, fruto do desejo de alguém que, além de milionário, era visionário. Embora interessante e cheia de informações, a visita é um bastante restrita: somos conduzidos no ônibus, com pequenas paradas em lugares determinados. Não há qualquer liberdade para caminhar na área do parque o que nos leva a questionar se o espaço está, de fato, cumprindo a missão de seu idealizador, de trazer oportunidade recreativa e educativa para a população.
De volta a Colonia, comemos sanduíches no Deli de las Rosas e descansamos o restante da tarde, ainda nublada…
À tarde, vimos passar pelas ruas um ensaio de um grupo de canbombe, manifestação cultural típica do Uruguay.
À noite, fomos a um concerto de música clássica na Igreja Matriz, cuja arquitetura simples apresenta referências aos dois países que disputavam a região. Depois, compramos pizza na Don Joaquim e encerramos a noite na Pousada.
…..
Falando em pousada, a de Colonia merece alguns comentários a mais…
Nós fomos lá por indicação de amigos (obrigada Aline e Dan!)… e não sabemos se mais nos surpreendemos ou nos apaixonamos…
La Posadita de la Plaza Plaza não é uma pousada comum… Ela tem sim, o que se espera de uma boa pousada: os quartos são confortáveis, a limpeza impecável; o café da manhã tem como diferenciais o pão assado na hora, frutas frescas e medialunas quentinhas; a localização é excelente, no centrinho histórico de Colonia, de onde se pode conhecer quase tudo a pé; não tem estacionamento, mas também não precisa, dá pra estacionar na rua, em segurança. Até aí tudo comum. Mas, a Posadita tem também muitos detalhes, que fazem a diferença: ela tem água e frutas disponíveis pros hóspedes todo o tempo; ela tem um quarto com um cheiro delicioso; ela tem telefone disponível, pra que os hóspedes possam fazer chamadas; esses são os que estamos lembrando… e tem alguns outros que é preciso ir lá pra ver… Além disso, a Posadita inclui “outras coisas”… inclui uma viagem no tempo, porque é recheada de brinquedos e peças de coleção, verdadeiras antiguidades (e a gente vira criança!); inclui uma biblioteca, porque tem livro pra todo lado; inclui uma visita a uma galeria de arte, porque tem as lindas fotos de Eduardo espalhadas (algumas, inclusive, à venda); inclui uma agência de informações turísticas, porque Eduardo sabe tudo o necessário de Colonia (incluindo e, especialmente, lugares maravilhosos pra comer) e te ajuda a fazer contato e reserva, quando necessário; inclui fazer novas amizades, porque é impossível sair de lá sem se considerar amigo(a) de Eduardo, de Caro, Sandra e Silvana, que cuidam do lugar e dos hóspedes com carinho e gentileza especiais… e de Francisca de La Plaza, a cadela que mora, meio na rua, meio na Posadita, e que faz festa e pede carinho o tempo todo…



Definitivamente, a Posadita não é uma pousada, é um modo de ser e ver o mundo… que só se sabe quando se vai lá…
……
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* Este não é um post patrocinado. O espírito do blog é de narrar histórias e experiências, de forma que esse escrito reflete unicamente a opinião dos autores.
** Os preços informados foram relativos a novembro/2017
***Viagem realizada em novembro/dezembro de 2017.